sábado, 3 de abril de 2010

O Papel

Naquela manhã, acordou com o despertador tocando. Olhou brava para o lado, mas antes que pudesse avistar a fonte de barulho, o que conseguiu ver foi o papel dobrado exatamente quatro vezes, em cima de seu criado mudo.

Seu olho congelou naquela imagem, o barulho do despertador já não a incomodava mais, não tanto quanto aquele papel. Por que o medo gigante de abrí-lo? Porque não o jogar no lixo? No fundo achava que tinha o colocado em cima de seu criado-mudo como forma de auto-sabotagem. Não levou em conta o cansaço, nem nada parecido. Tinha certeza que não havia jogado naquele lugar por acaso e, sim, um engenho para não esquecer sua existência, para desejar aquele papel.

Não fazia idéia do conteúdo, mas tudo que sabia era que tinha um medo misturado com curiosidade. Era um sentimento tão profundo que, só de olhar para aquele papel, logo quando acordou, seu coração disparou, não ouvia mais nada, não sentia mais nada. Naquele momento era apenas ela e o papel.

Levantou como se nada a tivesse incomodado. Ignorou, completamente, a fonte de seu incomodo. Lavou o rosto, olhou-se no espelho por mais ou menos 20 minutos. Para ela, não passou de dois segundos. Naquele momento não pensou em nada, sua mente estava vazia. Se arrumou e foi para o trabalho, como todas as manhãs.

O seu dia turbulento não a fez desistir daquela idéia, do seu incomodo. Não agüentou muito tempo, abriu o bilhete. Sua pupila dilatada, seu coração disparado. Dobrou o bilhete, guardou na gaveta de seu criado-mudo, ligou pra sua amiga e marcou de encontrá-la. Apenas disse o lugar, a hora e desligou. Saiu de casa com seu sentimento contido, mas seu olhar a denunciava.

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