sexta-feira, 12 de março de 2010

Aprendi com Charles Chaplin

“Hoje posso dizer que ‘ando devagar, pois, um dia, já tive pressa’. Não digo isso literalmente, pois ontem mesmo apertei o passo em direção ao ponto de ônibus, esperando o encontrar a minha espera, sem muito sucesso o vi passando do outro lado da avenida, super veloz, como se não tivesse notado que deixara para trás um passageiro.”
Naquele dia, ela acordou com uma felicidade incontida, transmitida no seu sorriso tímido, no brilho do seu olhar matinal. Lavou o rosto, colocou uma roupa qualquer de seu guarda-roupa e foi caminho a sua rotina. Parava todo dia naquela mesma banca em frente seu prédio, olhava as noticias folheando as paginas do jornal, como se já soubesse de todas; parava no mesmo café e comprava sempre o mesmo carioca duplo. Mais uma vez passara por aquela rua que, aparentemente, possuía o brilho noturno, porem de manhã não passava de mais uma rua.
Pôde perceber que todos naquele meio tinham suas vidas, possuíam suas angústias, mas não deixam de viver por isso. Pois, como lera uma vez em um muro: “não importa o quanto seu coração esteja sofrendo, o mundo não vai parar por causa disso.”, mas continuava sem entender porque, assim como todos ali, ela não podia deixar seu egocentrismo, sua dor sem motivo, sua crise existencial de lado e passar a importar-se com coisas realmente importantes. Não importa o quanto certas coisas sejam importantes, tem gente que não dá a mínima e você jamais conseguirá convencê-las. Porém, nem a si mesma ela convencia, era uma luta sem fim e sem motivo. Ela poderia passar anos construindo uma verdade e destruí-la em apenas alguns segundos.
Ainda olhava para trás e via sua hipocrisia com desgosto. Se sentia mal por agir assim e se subjugar, sem ao menos entender o porque agia assim. Era uma constante briga psicológica entre o certo e o errado, entre o bem e o mal; onde não havia ‘anjinhos’ nem ‘diabinhos’. O que ela mais queria era poder acordar uma manhã qualquer (nem que fosse apenas nas primeiras horas de seu dia), olhar-se no espelho e, sem dizer nada, sentir a confiança que toda mulher deveria ter ao se olhar no espelho. Poder sair de casa, leve; poderia até não sorrir, mas como não sorrir sabendo que haveria realizado seu maior desejo: LIBERDADE!
A culpa vinha em sua mente sempre que a tristeza tocava seu coração. Não se sentia no direito de sofrer depois de tudo que passara na vida, depois de ver todo o sofrimento de sua mãe, que criara seus três filhos e os defendera de tudo (até da morte) como uma leoa. Se sentia culpada por, naquele momento, não sentir a felicidade que sua mãe buscara com todo o suor; por banalizar seu esforço no momento em que deixou aquela lagrima escorrer de seu rosto, sem motivos aparentes, pois não se dava o direito de sentir nada mais além da felicidade.

"Eu aprendi que posso fazer algo em um minuto e ter que responder por isso o resto da vida; que por mais que se corte um pão em fatias, esse pão continua tendo duas faces, e o mesmo vale para tudo o que cortamos em nosso caminho. Aprendi que vai demorar muito para me transformar na pessoa que quero ser, e devo ter paciência. Mas, aprendi também, que posso ir além dos limites que eu próprio coloquei. Aprendi que preciso escolher entre controlar meus pensamentos ou ser controlado por eles; que os heróis são pessoas que fazem o que acham que devem fazer naquele momento, independentemente do medo que sentem. Aprendi que posso ficar furioso, tenho direito de me irritar, mas não tenho o direito de ser cruel. Eu aprendi que meu melhor amigo vai me machucar de vez em quando, que eu tenho que me acostumar com isso; que não é o bastante ser perdoado pelos outros, eu preciso me perdoar primeiro; que as circunstâncias de minha infância são responsáveis pelo que eu sou, mas não pelas escolhas que eu faço agora. Aprendi que a minha existência pode mudar para sempre, em poucas horas, por causa de gente que eu nunca vi antes. Aprendi que as palavras de amor perdem o sentido, quando usadas sem critério; e que amigos não são apenas para guardar no fundo do peito, mas para mostrar que são amigos. Aprendi que certas pessoas vão embora da nossa vida de qualquer maneira, mesmo que desejemos retê-las para sempre. Aprendi, afinal, que é difícil traçar uma linha entre ser gentil, não ferir as pessoas, e saber lutar pelas coisas em que acredito. E agora posso agradecer a cada pessoa que está na minha vida, cada pessoa que passou por ela. Obrigado por fazer de mim o que sou hoje.''

sábado, 6 de março de 2010

Capítulo Primeiro

Eram três horas da manhã, ela olhava pela janela. Nada de novo, nada de diferente. Estranhamente ela sentia como se tudo estivesse realmente diferente ou fora do lugar. Olhou de novo o relógio, não tinha passado nem um minuto, mas era como se tivesse tempo o suficiente para ter passado sua vida inteira pela memória.
Diante daquele “nem um minuto” simplesmente sentou-se, olhou para a porta, não chegou a pensar, agiu por pura impulsividade. Foi. Com ela não levava nada, além de suas chaves. Estava frio, mas nem um casaco ela pensou em pegar, simplesmente saiu. Não agüentava mais olhar para aquela casa vazia, não queria mais ficar sem nada para fazer. Como diria Vinícius de Moraes: “Ai que tédio enorme da vida”.
Começou a andar e reparar na sua rua, coisa que nunca havia feito antes, pelo simples fato cotidiano de sair apressada e atropelando a própria pressa. Passava sempre por uma doceria, mas nunca reparou quão bonita e confortável ela parecia ser ou como a praça estava diferente desde o primeiro olhar dado a ela naquela tarde em que o corretor entregara as chaves do apartamento.
A vida havia mudado muito, porém ela sabia que se algo mais poderia ser feito, esse algo era apenas dentro de si. Precisava ter paciência com seu jeito, com suas auto-críticas. Olhar-se no espelho já não era a mesma coisa de antes. Não aparentava mais a juventude de antes, nem sorria simpaticamente como antes. Tudo o que ela tinha era a boa memória da vida que levava, dos sorrisos dados a estranhos, sem motivo algum; das ocasiões declaradas, agora, como ‘pouco aproveitadas’. Mas sempre se consolava com a crença de que só passamos a dar o devido valor quando vem algo mais difícil e torna aquele pequeno problema em algo sem significado.
Na sua caminhada “noturna” acabou por perceber um homem observando-a. Ele olhava fixamente, ela não entendia o motivo, chegou a ter medo, mas continuou seus passos sem alteração alguma. Ele estava parado, apoiado num poste de luz e fumando um cigarro. O efeito dado pela luz, fez com que ela comparasse aquela cena a um ‘filme policial das antigas’.